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sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Reflexões iniciais sobre vegetarianismo e veganismo

Faz um tempo que eu flerto com a ideia de ser vegetariana/vegana, mas perceber e admitir isso não foi fácil. No início, eu me considerava o oposto do que (na minha imaginação) era o vegetariano típico: eu nunca tive nada contra matar animais para me alimentar. Tenho várias lembranças felizes da minha infância de quando a gente criava galinha e pato para matar pra um almoço ou jantar especial. Eu convivia com o bicho, brincava com ele e um dia via sua morte, limpeza, preparação e, depois de tudo, o comia satisfeita. Isso me capacitava para ser carnívora, certo?

Mas há muitos anos não é assim. Não sei se é porque me mudei para a "cidade grande" ou se é porque o mundo mudou. Mas vejo que as crianças de hoje acham que bacon e porco são coisas completamente desconectadas. E muita gente diz que adora carne, mas nunca viu um animal ser abatido e se sentiria mal em matá-lo. E assim a gente terceiriza a responsabilidade de tirar a vida de outro ser. Terceiriza a culpa pela morte.

Nesse programa dos Jamie Oliver nos Estados Unidos, as crianças não sabiam que
catchup era feito de tomate. Não preciso nem falar do hambúrguer e dos nuggets...

Talvez esse não seja o seu caso. Meu namorado é um desses carnívoros feliz, que não vê problema em matar um boi ou frango, e o faria sem pestanejar. As pessoas são diferentes, e só precisa ser vegetariano quem tem pena de matar um bichinho, não é mesmo? Eu passei anos presa bem aqui, nesse estágio do raciocínio, sabendo que algo me incomodava mas sem saber bem o quê.

Até o dia em que eu li um texto - que muitos achariam extremista - que dizia que os animais de corte são  escravizados. Acho que foi aí que tudo fez sentido para mim. Por que animais como bois, frangos e porcos não têm o direito a uma vida livre? Por que eles devem existir apenas para nossa satisfação? Quem disse que o propósito de vida deles é servir à nossa vaidade gastronômica?

Foi quando eu percebi que, para mim, vegetarianismo e veganismo não estão ligados à capacidade de matar animais do nosso quintal sem sentir culpa - até porque quase ninguém em grandes cidades faz isso. O problema é o sistema que dá uma existência miserável a milhões de seres, alienando o resto do mundo que compra linguiças e sobrecoxas perfeitamente embaladas no supermercado. O que os olhos não veem, o coração não sente...

Esse slogan sempre me incomodou.
 Hoje eu vejo que é bom incomodar: te faz pensar.

Hoje, não tenho mais paciência para discutir com quem ri das motivações dos vegetarianos, como eu mesma fazia antigamente. Não argumento com gente que acha engraçado você ter "pena dos bichinhos". Cada pessoa tem sua opinião e seu tempo. Para mim, é muito claro que tanto a minha gatinha de estimação quanto o "gado de corte" merecem uma vida boa e confortável. É uma questão ética. Espero que um dia a gente estenda aquela frase famosa da Declaração Universal dos Direitos Humanos a todos os bichos, e possa falar com orgulho que todos os animais nascem livres e iguais em dignidade e direitos. Até lá, eu tento fazer a minha parte.

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